sexta-feira, 5 de agosto de 2011

PAPIRO, PERGAMINHO, PAPEL, PC O papel do livro na era do livro sem papel Parte 1


Numa das postagens do blog do projeto “Ler é 10 – Leia Favela” (leredezleiafavela.blogspot.com), são enumerados dez motivos para ler livros: “descoberta de novos mundos”, “alegria e encantamento”, “viagem sem sair do lugar”, “novos amigos”, entre outros. Otávio Júnior, o visionário do projeto, tem 27 anos, é carioca, morador do Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, cenário dos conflitos entre a polícia e criminosos que expõem de maneira tão negativa esse local, em que trabalhadores e pessoas do bem tentam viver, relacionar-se e lutar pela sua cota de ideais, sonhos e projetos.

Otávio Júnior é autor do livro “O livreiro do Alemão”, no qual narra a sua história de amor pelos livros, e deve inaugurar, no dia 22 de agosto próximo, no Morro do Caracol, a “Barracoteca” Hans Christian Andersen, denominação que ele criou para a primeira biblioteca numa região de quatrocentas mil pessoas. Em outras palavras, na era da Grande Rede, centenas de milhares de pessoas ainda conviviam sem uma biblioteca. Eis um fato que diz tanto do nosso país de contrastes.
Como relata em seu livro, a revolução de Gutemberg em sua vida aconteceu por acaso, aos oito anos, ao topar, num lixão, com uma caixa em que havia brinquedos velhos e um livro. Pois esse livro singelo causou um big bang na vida de Otávio Júnior, que não parou de ler mais desde então. Na sua adolescência, ele fugia das aulas para, num percurso de vinte quilômetros, de ônibus, ir à biblioteca do Museu da República, que não existe mais.

A ousadia nostálgica do jovem do Alemão
Com a apropriação tão acelerada do mundo pela vida virtual, resultado da revolução da microeletrônica que caminha exponencialmente, no crepúsculo de uma era que moldou a nossa civilização - a era de Gutemberg -, a ousadia de Otávio Júnior causa-nos perplexidade: ele é um visionário retrô, que avança nostalgicamente, resistindo de maneira quixotesca contra as transformações aceleradas e aparentemente irreversíveis? Em outras palavras: o livro em papel é o centro de um mundo em extinção?
Não há, provavelmente, discussão mais seminal do que essa, à vista, como dissemos, do que parece o fim de uma era da nossa civilização e da qual procuraremos tratar aqui nesse espaço.

Convido-os a essa reflexão que, dada a sua magnitude, não é apenas filosófica ou acadêmica, pois remete a questões urgentes da organização da vida social, da educação, dos novos meios de comunicação social, da relação entre tecnologia, informação, conhecimento e poder e muito mais.
Voltaremos ao assunto.


por Paulo Matsushita