terça-feira, 5 de março de 2013


Nota do Partido Socialismo e Liberdade de Jundiaí

O Partido Socialismo e Liberdade reafirma, por ocasião da realização de
sua Convenção Municipal, a ocorrer no dia 9 de março próximo, a continuidade
de sua atuação política na cidade de Jundiaí, comprometida com a discussão,
junto aos setores populares, de um novo projeto de cidade, seguindo a
trajetória histórica da Esquerda Socialista e a retomada das lutas pela
igualdade, opondo-se a todo tipo de opressão. Faz-se necessário, portanto, o
estabelecimento de relações entre o Partido e a sociedade de forma horizontal,
buscando pensar uma cidade para todos os cidadãos, a fim de propor um
projeto socialista para Jundiaí, com a ampliação dos espaços públicos, através
da participação democrática e popular.
Apesar do apoio eleitoral formalizado à candidatura do PCdoB no
segundo turno, no qual havia a intenção de acabar com os vinte anos de
PSDB, cujas administrações favoreceram apenas os interesses de uma classe
dominante, o PSOL se apresenta como um partido de oposição programática e
propositiva. A política de alianças do PCdoB com um partido de direita, o PSD,
símbolo do fisiologismo político, não permitirá o enfrentamento das estruturas
conservadoras locais, historicamente avessas à construção de uma cidade
pautada pela participação popular. A natureza destas alianças é contrária aos
interesses populares e não colabora efetivamente para a renovação política e
para o desenvolvimento social e econômico da cidade em benefício de todos
os segmentos sociais da cidade e de todas as suas regiões, notadamente
aquelas mais periféricas e carentes. Para o PSOL, portanto, um Partido
orientado por um programa de esquerda socialista, é incoerente qualquer tipo
de aliança com esse Governo e, muito menos, participação em sua
administração.
Somente com uma forte mobilização popular será possível inverter a
lógica histórica em Jundiaí de concentração de poder e privilegiamento
econômico a pequenos setores sociais. A cidade é para todos! Por tudo isso é
que o PSOL se apresenta, no momento de renovação de sua Direção local,
como uma opção de mudança contra a velha política.

Partido Socialismo e Liberdade  de Jundiaí. 

Convenção do PSOL Jundiaí 
Data: 09 de Março de 2013
Horário: 14:00 horas
Local: Sindicato dos Bancários
Endereço: Rua Prudente de Moraes, 843 Centro Jundiaí - SP.

domingo, 4 de março de 2012

MULHER: AMOR, VIDA E REVOLUÇÃO.



         No dia oito de Março comemoramos o Dia Internacional das Mulheres, este dia também é marcado pela morte de aproximadamente 130 tecelãs, na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos, que durante manifestações por melhorias nas condições de trabalho, foram trancadas e carbonizadas dentro da fábrica.As lutas feministas também ocorreram em diversas partes do mundo, como as manifestações das mulheres russas por melhores condições de vida e trabalho, antecedente que colaborou para o inicio da Revolução Russa de 1917 e a luta das operárias, nos Estados Unidos e na Europa do inicio do Século XX, por melhores condições de trabalho e direito ao voto, marca as atitudes deste Ser maravilhoso que não se contenta em simplesmente dar o direito à vida, mas também em se doar e lutar para que possamos viver melhor.
         Sabemos que a vida da mulher não se limita apenas em suas obrigações e a subordinação do gênero, pois ela é formada pela suas determinações, suas sensibilidades e principalmente ao seu desejo e sua batalha de viver livremente a caminho da felicidade.
         No Brasil, como em todo o mundo, são diversas as conquistas feministas como a criação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminista em 1922, o direito ao voto em fevereiro de 1932, a primeira Delegacia Especializada à Mulher em 1985, a conquista de uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, no ano de 1996 e a conquista do mais alto cargo do Executivo Brasileiro em 2010.
         Com isso percebemos que a mulher não foi meramente uma coadjuvante no processo transformado do nosso mundo, mas também uma protagonista que sempre esteve disposta a enfrentar a dureza do cotidiano, a superação do preconceito e as crueldades de um sistema injusto .
         Porém não podemos esquecer que mesmo com grandes mudanças na condição da mulher em nossa sociedade, ainda vivemos em um sistema de estruturas desiguais e em uma cultura política acarretada de discriminações e preconceitos, que muitas vezes vale mais sua sexualidade, do que seu caráter e sua ética. Por isso, nas palavras de Rosa Luxemburgo, grande mulher e revolucionária do século XX, sabemos que temos que lutar, todos os dias “por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”.
         Parabéns mulheres, não pelo seu dia em especial, mas por ser uma grande batalhadora e construtora de um mundo melhor.
Jean Marcel Caum Camoleze

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Desconstruir o racismo e forjar a utopia revolucionária negra Jaime Amparo Alves[1] Douglas Belchior[2]



 
 
No Ano Internacional dos Afrodescendentes, há pouco para ser comemorado sobre a situação de negros e negras no Brasil, a maior nação afrodescendente fora do continente africano. Se houve progresso nos indicadores sociais do país, a precariedade das condições de vida de negros e negras segue sendo o principal empecilho para que o Brasil passe a fazer parte do seleto grupo de nações com alto índice de desenvolvimento humano. Se dividíssemos o país pela linha da cor e acesso às oportunidades, teríamos entre nós “dois Brasis” distintos: uma Noruega e um Congo. Isso equivale a dizer que, passados 123 anos da abolição da escravidão, a população negra continua sendo uma dor de cabeça para as elites do país. O que fazer com essa massa de gente feia, pobre e perversa que enche as favelas, polui a paisagem urbana e coloca em risco “nossa” segurança e nosso patrimônio? Ainda assim, há uma teimosia negra que torna relevante outra questão: como foi possível que, apesar dos projetos raciais de embranquecimento e de extermínio da população negra, esse grupo chegue ao seculo XXI como a maioria do povo brasileiro? Como resolver o ‘problema’ cultural, religioso, econômico e político, representado pela presença negra no país que se quer “civilizado” e moderno? Quais os principais desafios colocados ao movimento negro e à esquerda, levando em conta os aspectos conjunturais da política brasileira?
 
Nem direitos, nem humanos: o que fazer com os feios, sujos e malvados?
A resposta para esta pergunta pode ser encontrada nas políticas de segurança pública que elegem o corpo negro como o depositário absoluto do mal. Ainda está para ser feita a conta de quantos negros e negras morreram (e vão morrer) nos programas de sanitarizacão urbana empreendidos pelos governos federal, estaduais e municipais no bojo da preparação para os mega eventos esportivos. A importação de tecnologia israelense para a ‘pacificação’ das geografias urbanas do país dá uma dimensão do que vem por aí. Massacres, prisões em massa, demolições de favelas, desaparecimentos. Ainda assim, o espetáculo da morte negra ao vivo, pelas câmeras do jornalismo criminoso não comove nem suscita reações da chamada ‘sociedade civil’.
Entre os inúmeros exemplos, o leitor poderia fazer um paralelo entre as reações que se seguiram a morte do menino João Hélio Fernandes Vieites, arrastado por bandidos em um carro no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2007 e a banalizada morte de crianças negras como a do menino Juan Moraes, de 11 anos, em junho de 2011, por policiais militares do 20º BPM (Mesquita), na Favela Danon, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Qual o valor da vida negra em uma sociedade que se diz antirracista, mas insiste em produzir padrões de vulnerabilidade à morte delineados por raça e classe social? Se levarmos em conta que entre nós permanece atualizada a máxima ‘direitos humanos para quem é humano’, fica fácil entender que a morte de negras e negros não suscita comoção porque este grupo social não tem sido visto nem pela lógica dos direitos nem pela lógica do humano; em outras palavras, é um grupo que carrega um ‘defeito de cor, traços e origem’ que lhe anula a possibilidade de um reconhecimento como humano.
Temos insistido que é impossível entender a ‘necro-política’ racial brasileira sem levar em conta o lugar do corpo negro no projeto da nação verde-amarela. Se por um lado o corpo negro é consumido na figura da mulata tipo exportação, do homem negro hiper-sexual, do carnaval, do futebol, da favela e do candomblé como espaços do turismo exótico -, por outro ele alimenta a imaginação racista branca como sinônimo do ‘mal’: criminoso, perverso, dependente do bolsa-família, favelado, fanqueiro, promíscuo. Haveríamos de nos perguntar então como é possível uma sociedade não racista, como nos quer fazer crer a grande mídia brasileira, capitaneada pela Rede Globo e pela Revista Veja, providencialmente coordenadas por uma intelectualidade treinada a partir das lições de Ali Kamel, Demétrio Magnoli e sua turma encastelada nas universidades brasileiras, conviver com tamanho paradoxo: ao mesmo tempo em que é impossível saber quem é negro e quem é branco no Brasil, negros são as principais vítimas da violência homicida, a maioria dos que apodrecem nas prisões, os alvos prediletos do terror policial e a maioria entre os empobrecidos e analfabetos. Em outras palavras, se os cínicos insistem em negar a existência do racismo no país, com um pouco de sensibilidade politica não nos parece ser difícil localizar onde estão os negros na hierarquia social brasileira. Os encontros mortais dos negros com o aparato policial, por si só deixa nu o argumento de que é impossível saber quem é negro e quem não é no país da democracia racial. A incrível capacidade da polícia em identificar o corpo negro nas invasões de favelas e a insidiosa disparidade nos números de homicídios entre a população jovem de ambas as raças, requer no mínimo que o discurso que nega a existência do racismo se sofistique.
Racismo em números
Todos os indicadores sociais apontam para um padrão consistente de vulnerabilidade social de negras e negros, seja no mercado de trabalho, no acesso à educação formal, no acesso à moradia urbana, à terra ou à justiça. No mercado de trabalho, a taxa de desemprego é de 10 entre negros e 8% entre os brancos. O Relatório Global sobre a Igualdade no Trabalho, de 2011, aponta que embora seja 45,5% da população ativa, a participação de negros na população desempregada total é de 50,5%. Outro importante indicador, o perfil das 500 maiores empresas do país, traçado pelo Instituto Ethos, mostra que quanto maior o nível hierárquico, menor a probabilidade de negros no quadro de direção. Em 2010, negros representavam 5% dos executivos e 13% dos gerentes das 500 maiores empresas.  A mulher negra segue sendo, para usar a expressão de Sueli Carneiro, “a última da fila depois de ninguém”. Elas simplesmente não existem, representam apenas 0,5% dos cargos de chefia ou gerência[3].  No geral, as mulheres negras ganham em média 70% menos do que ganha o homem branco e a metade do que ganha o homem negro. Para a pergunta “qual o lugar da mulher negra na força de trabalho?”, a resposta é relativamente simples: o mesmo lugar que ocupava em 1888 quando da abolição da escravidão, ou seja, na cozinha.
No que diz respeito ao acesso à educação formal, embora tenha havido uma expansão universal do ensino básico e médio, de acordo com o IBGE os negros representam 70% dos cerca de 14 milhões de analfabetos do país. No ensino superior não é diferente: em 2007, entre a população branca com mais de 16 anos, 5,6% frequentavam o ensino superior, enquanto entre os negros esse percentual era 2,8%.  As universidades públicas brasileiras têm feito pouco para mudar este abismo; apesar das políticas afirmativas, entre 1997 e 2007 o ingresso de negros com mais de 16 anos aumentou apenas 1,8% (de 1 para os atuais 2,8%). O aumento na matrícula de jovens negros no ensino superior deveria não ofuscar um aspecto importante aqui: as iniciativas negras autônomas, como os pré-vestibulares comunitários, que tem preparado jovens para o seleto vestibular. À revelia da comunidade acadêmica, tais organizações têm pressionado o governo e os gestores universitários a adotarem políticas de inclusão e começam, ainda que lentamente, mudar a configuração monocromática das universidades públicas.
Ainda assim, e apesar da luta, um menino pobre, negro, morador do Capão Redondo, na periferia de São Paulo, ou na favela da Maré, no Rio de Janeiro tem pouquíssimas chances de entrar na USP ou na UFRJ, as universidades-símbolo da exclusão educacional no país. Ambas insistem em protelar o debate sobre as ações afirmativas e seguem imbatíveis, ferindo o princípio republicano da igualdade de oportunidades e de direitos que supostamente defendem.
O acesso à terra continua sendo uma prerrogativa dos senhores brancos. A chamada ‘bancada ruralista’ no Congresso Nacional, representada por figuras como Ronaldo Caiado e Kátia Abreu é o principal, embora não o único, entrave ao processo de afirmação dos direitos das comunidades quilombolas. No lado oposto da trincheira estão populações tradicionais organizadas através da Frente Nacional em Defesa dos Territórios Quilombolas. O acesso à terra urbana também continua inalterável. A oferta de crédito imobiliário, uma política dos governos Lula/Dilma, desvirtuou a questão transformando o solo urbano em mais uma fronteira para a contenção emergencial da crise financeira. São as construtoras, e a emergente classe média branca, as principais beneficiárias do Programa Minha Casa Minha Vida. Por outro lado, a população negra segue vivendo majoritariamente em áreas urbanas desprovidas de infraestrutura básica. De acordo com a ONU-HABITAT, o Brasil possui 28.9% da sua população urbana vivendo em favelas[4]. Com os mega eventos esportivos surgem no país agora uma nova categoria de vítimas: os ‘refugiados internos’. São os moradores expulsos do entorno de áreas nobres das cidades-sede da copa do mundo de 2014 e das olimpíadas de 2016. São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, se tornaram lugares comuns de incêndios inexplicáveis de favelas localizadas em pontos estratégicos da cidade. Assim como as políticas de ‘pacificação’ das “geografias problemas”, os incêndios aparecem como uma ótima oportunidade para ‘resolver’ a questão política inadiável: abrir a cidade para a circulação de mercadorias e de capital.
 
O Genocídio da Juventude Negra
Talvez a morte prematura da juventude negra seja a face mais visível e mais cruel do racismo Brasil. Qual seria a reação se os papéis se invertessem e a vitimização de jovens brancos entre 15 e 24 anos fosse três vezes maior do que entre jovens negros vivendo sob a mesma bandeira nacional? Jovens negros são as principais vítimas não apenas das politicas oficiais de extermínio, como também da violência homicida em geral. Nos últimos dez anos o pais registrou 522 mil homicídios, o que equivale a cinco guerras no Iraque. O Mapa da Violência 2011, uma publicação conjunta da Unesco e do Ministério da Justiça, identificou um padrão persistente de vítimas: jovens, moradores de áreas urbanas precárias e negros. Se o quadro já é assustador com o país ocupando a sexta posição mundial no ranking de homicídios entre jovens, não seria exagero afirmar que nenhuma outra nação fora do continente africano assassina tantos negros. Em alguns estados brasileiros, o padrão de vitimização de jovens negros chega a quase 2000% em relação aos jovens brancos na mesma faixa etária, como mostram os exemplos da Paraíba (1.971,2%), Alagoas (1.304,0%) e Bahia (798,5%), os estados líderes no assassinato de jovens negros[5].
Os dados do Ministério da Justiça revelam que, em 2002, em cada grupo de 100 mil negros, 30 foram assassinados. Esse número saltou para 33,6 em 2008; enquanto entre os brancos, o número de mortos por homicídio, que era de 20,6 por 100 mil, caiu para 15,9. Em 2002, morriam proporcionalmente 46% mais negros que brancos. Esse percentual cresce de forma preocupante uma vez que salta de 67% para 103%. Constata-se que o grau de vitimização da população negra é alarmante: 103,4% maiores as chances de morrer uma pessoa negra, se comparada a uma branca; sendo 127,6% a probabilidade de morte de um jovem negro [de 15 a 25 anos] à de um branco da mesma faixa etária.
 
Ao publicar os dados, o governo federal de certa forma também já admite a sua cumplicidade com a matança. Um estudo conjunto entre a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, a UNICEF e o Observatório de Favelas revelam que 33,5 mil jovens serão executados no Brasil entre 2006 a 2012. Os estudos apontam que os jovens negros têm risco quase três vezes maior de serem executados em comparação aos brancos. Se distribuída a chacina no tempo, os números equivalem a 400 mortes por mês. É como se todo mês dois aviões Air Bus, lotados de jovens de até 18 anos, caíssem em algum lugar do Brasil, sem nenhum sobrevivente.
Embora a polícia em si não seja a única força letal contra a juventude negra, ela é certamente uma das mais incisivas. Apesar de ser visto como exagero pelos setores conservadores da sociedade, a política programada de eliminação de negros pelas forcas policiais já é admitido por parte imprensa nacional, a exemplo do jornal Correio Braziliense, que após cruzar dados de mortalidade por força policial do Ministério da Saúde e das ocorrências registradas nas secretarias de Segurança Pública do Rio de Janeiro e São Paulo, revelou que a uma pessoa é morta no Brasil pela polícia a cada cinco horas e que 141 assassinatos são realizados por agentes do Estado a cada mês. Ainda segundo o estudo, Rio de Janeiro e São Paulo concentram 80% dos assassinatos cometidos por policiais no Brasil.
Segundo a Human Rights Watch, entre 2005 e 2009 as forças policiais de São Paulo e Rio de Janeiro juntas assassinaram 11.000 pessoas sob a justificativa legal de ‘resistência seguida de morte’ ou ‘autos de resistência’. Nos últimos cinco anos, a polícia paulista assassinou mais pessoas (2176) do que toda a polícia sul-africana (1623). Embora os números do terror policial sejam inconsistentes e não confiáveis, o assassinato de jovens negros pela polícia já faz parte do senso-comum. Poupemos o leitor com a ladainha de sempre, afinal os últimos desdobramentos dos programas de ‘pacificação’ urbana, as imagens (não reveladas) de corpos negros lançados aos porcos, a política do ‘estrebucha até morrer’, ou ainda os desaparecimentos cada vez mais comuns de pessoas ‘com passagem pela polícia’ falam por si só.
 
 
Progresso racial? Um passo a frente e vários passos atrás
“Você não pode enfiar uma faca de nove polegadas nas costas de uma pessoa, puxar seis polegadas para fora, e chamar isso de progresso!”. A frase de Malcon X, expressa nosso ceticismo quanto à ideia de progresso racial vendido à exaustão na propaganda política do governo federal e ecoado em alguns setores do movimento negro. O acesso da população negra a direitos básicos de cidadania é mais uma conquista da luta organizada do que uma concessão do Estado. Dado o lugar histórico de não cidadãos ou cidadãos de terceira categoria que os negros ocupam no nosso ‘regime racializado de cidadania’ [6], ainda estamos há kilometros dos primeiros passos consistentes rumo à correção das injustiças raciais. A cidadania incompleta reflete a abolição inconclusa, uma vez que os direitos básicos de cidadania do pós-abolição não são reparação nem podem mudar, como um passe de mágica, a estrutura perversa da sociedade brasileira.
O racismo cotidiano a que estão submetidos negros e negras poderia ser entendido aqui a partir da imagem de uma bola de aço amarrada no calcanhar de alguém que desesperadamente tenta fugir de um leão faminto. O país cresce e se consolida na esfera internacional, redistribui renda, diminui a taxa de analfabetismo, sobe posições em seu IDH, mas mantém sua população negra em padrões de vida semelhantes aos paises da África Subsaariana. O país vai bem, mas os negros vão mal.
Talvez o exemplo mais ilustrativo para o leitor entender nosso pessimismo quanto a um suposto progresso negro seja o processo que levou à aprovação do Estatudo da Igualdade Racial, o qual sugestivamento chamamos de “Estatuto da Democracia Racial”. Apresentado pelo senador Paulo Paim (PT-RS), o PL do Estatuto da Igualdade Racial tramitou no Congresso Nacional por sete anos até ser aprovado pelo presidente Lula em 2010. A proposta animou a esperança de o Estado brasileiro finalmente iniciar um processo de reparação aos descendentes da escravidão no Brasil. No entanto, nos difíceis anos de debate e enfrentamento aos que resistiam à sua aprovação, a proposta original sofreu alterações que esvaziaram o seu sentido reparatório. Ainda em 2009, alterações feitas na Câmara Federal rebaixaram o Estatuto para uma condição “autorizativa”, além de não garantir recursos para sua execução. Com isso, os gestores públicos já não seriam obrigados a colocá-lo em prática.
 
Ao sancionar o Estatuto da Igualdade Racial Lula inadivertidamente (ou ironicamente orientado por uma parcela do movimento negro seduzida pelo Planalto) deu novo combustível ao mito da democracia racial brasileira. Fruto de um acordo espúrio entre setores do governo e o DEM, representado pelo senador Demóstenes Torres, relator do projeto e presidente da CCJ no senado, com o Estatuto demos um passo adiante (se o leitor não quiser ser tão pessimista) e vários passos atrás. Vazio de conteúdos, o documento selou um acordo de cavalheiros em que ganhou o governo – sem obrigação de implementá-lo – e ganhou a oposição, defendendo a ordem branca atual.  
 
O acordo que possibilitou a aprovação do Estatuto simplesmente enterrou as reivindicações históricas e esvaziou a já fragmentada mobilização política do povo negro. O texto aprovado excluiu as cotas para negros nas universidades, nos partidos e nos serviços públicos; excluiu a garantia do direito a titulação das terras quilombolas; excluiu a defesa e o direito a liberdade de prática das religiões de matriz africanas e não fez referência a necessidade de atenção do Estado ao genocídio cometido pelas políticas que vitimam a juventude negra. Com a bobagem do “melhor um estatuto imperfeito do que um estatuto perfeito engavetado”, representantes de uma ala do movimento negro governista impôs a todos nós uma derrota ainda por ser digerida pela militância negra radical e ainda por ser estudada pelas ciências sociais interessadas em entender os processos de cooptação e subordinação política negra no Brasil da era Lula. Está aí, de mão beijada, um tópico de pesquisa que o leitor bem poderia abraçar.
 
À esquerda de Karl Marx?
Tomamos emprestado aCarole Boyce Davies[7] o título acima para uma última questão ainda pouco explorada sobre o movimento negro e a esquerda brasileira. Por que a esquerda brasileira continua refratária a incorporar a dimensão racial como estrutura fundante das desigualdades sociais no país? Também, ao passo em que reconhecemos o terror estatal do periodo militar e nos colocamos como partícipes na luta pela Comissao da Verdade, questionamos: por que as vítimas da ditadura militar - e não o estado de exceção permanente em que vivem os negros nas favelas brasileiras – tem sido o paradigma da luta pelos direitos humanos no Brasil? Hipóteses: a) Talvez porque, ao contrário das vítimas da ditadura militar, o assassinato de negras e negros não é suficientemente ‘político’ para uma luta coletiva contra a violência estatal e para a unificação de bandeiras contra a opressão.b) Porque a morte negra é tão banal que ela não pode ser vista como tragédia. Afinal, o que é a ditadura para quem a lei está em permanente estado de suspensao? c) Porque a condição negra é vista, nos olhos da esquerda, como uma consequência/derivativa, ao invés de parte fundante, do capitalismo racial brasileiro.
As questões acima parecem díspares mas não são. Elas apontam para uma dificuldade histórica da esquerda em entender a condição estrutural dos negros na sociedade brasileira. A dificuldade em relacionar a questão racial à interpretação dos antagonismos de classes parece ser uma “virtude” do campo progressista, afinal, temos razões para acreditar que as elites sempre perceberam e atuaram a partir da ideia de que a classe trabalhadora no Brasil se caracteriza pela matriz étnico-racial e que, para mantê-la dominada, seria necessária a construção de um mito que convencesse o ‘povo brasileiro’ da sua cordialidade. Não seria este mesmo discurso reatualizado na acusação de que movimento negro fragmenta a luta de classes no Brasil? Aqui está o calcanhar de aquiles da ‘nossa esquerda’: ela é refém de um discurso homogeneizante produzido pela Casa Grande.
Para esvaziar a luta política pela emancipação radical numa sociedade estruturada a partir das desigualdades de raça, gênero e classe, foi preciso uma mentalidade que conformasse a população em uma nação imaginada como una, uma mentalidade que, apesar de explicitamente condenar determinado grupo ao subjugo, construísse em torno dessa realidade um aspecto positivo, negasse a especificidade da experiência negra, reforcasse a boa convivência, a fraternidade e a compaixão, enfim, um ambiente de democracia racial. Afinal, o que é o povo brasileiro senão esta deliciosa mistura? O que é a classe trabalhadora senão esta massa de indivíduos sem rosto, sem sexo, sem gênero e sem raça?
 
Ao negar a existência do conflito entre brancos e negros, as elites brasileiras negam também o antagonismo entre as classes. Inversamente, a resposta da esquerda à direita tem sido negar o antagonismo racial, como se o resgate da identidade negra não fosse um elemento revolucionário, na medida em que a negritude está relacionada a pobreza e à opressão. Na medida em que há um reconhecimento e um resgate dessa identidade racial, ela está carregada também de uma identidade de classe no tripé preto/a-pobre-trabalhador/a. Uma vez que as esquerdas brasileiras hesitam em assumir a questão racial – ou a assumem como uma consequência da dominação de classe – acaba ficando para nós, as vítimas do racismo, a tarefa de oferecer um projeto radical de transformação da sociedade que incorpore como suas matrizes as dimensões de raça, gênero e classe.
 
A condição negra – os últimos da fila depois de ninguém – pode(ria) ser o ‘lugar’ de onde gestar um projeto de sociedade que questione não apenas o modelo capitalista de organização social, mas também o modelo de resistência a ele porque tal modelo tem deixado de fora das suas prioridades as bandeiras de lutas da nossa gente. Refundar a esquerda brasileira implicaria, a partir da nossa lógica, colocar em perspectiva histórica e política o lugar do corpo negro como o ponto de partida para entender onde estamos e onde queremos chegar.  
 
Estaria o movimento negro brasileiro à altura de tal desafio? A relação de setores do movimento negro com o Estado na era Lula/Dilma e o incômodo onguismo que cada vez mais substitui as iniciativas negras lançam dúvidas sobre isso.
 
O 20 de novembro pode ser uma data importante para o movimento negro - em sua multiplicidade – de resgate da utopia negra, uma utopia que resignifique a luta e incorpore as dimensões de caça, gênero, classe como convergentes.
 
Resgatar identidade racial negra é provocar, em conjunto, o resgate e a releitura de uma identidade de classe explosiva e revolucionária. Eis aí o temor das elites brasileiras assombrada com a experiência transgressora prodo povo preto do Haiti. Aí repousa a justificativa para a violência programada contra negras e negros brasileiros. E repousa aí também a oportunidade de, ao refletir e fazer a autocrítica necessária às organizações e a nossa postura, fazer nascer uma nova forma de provocar a organização da classe trabalhadora no Brasil.
 
Que os detratores das ações afirmativas não nos ouçam, mas seria trágico se o movimento negro sucumbisse a uma agenda que tivesse como fim último a inclusão de negras e negros no modelo de sociedade que aí está. Isso implicaria aceitar o estatus subalterno negro que o capitalismo racial requer. Faz-se imperativo que enquanto lutamos pragmaticamente pelo direito à existência, pelos direitos de cidadania e pela afirmação de nossa identidade, não capitulemos de uma utopia revolucionária negra. A luta pela liberdade humana é incompatível com o modelo de sociedade em que vivemos.


[1] Jaime Amparo Alves é jornalista e antropólogo
[2] Douglas Belchior é historiador e professor de historia. Ambos são membros da Uneafro-Brasil (www.uneafrobrasil.org)
[3] Instituto Ethos, O Perfil Social, Racial e de Gênero 2010.
[4] Ver ONU-HABITAT, Indicadores Urbanos. Disponivel em: http://www.unhabitat.org/stats/Default.aspx
[5] Waiselfisz, Julio Jacob. Mapa da Violencia 2011: os jovens do Brasil. Instituto Sangari, Brasilia.
[6] Vargas, Joao e Amparo Alves, Jaime. Geographies of Violence: an intersectional approach on police violence in Sao Paulo.
[7] Davies, Carol Boyce. Left of Karl Marx: The Political Life of Black Communist Claudia Jones. Duke University Press, Durham, 2008.


-- 
Douglas Belchior
Conselho Geral - Uneafro
(11)3105-2516 opção - (11) 7550-2800
www.uneafrobrasil.org
 
 
Chegará o dia
Não renuncieis ao dia que vos entregam os mortos que lutaram.
Cada espiga nasce de um grão entregue à terra,
e como trigo, o povo inumerável
junta raízes, acumula espigas,
e na tormenta desencadeada
sobe à claridade do universo.

Pablo NERUDA

sábado, 1 de outubro de 2011

Cobrança para utilização de sanitários em terminais rodoviários é abuso‏


Você sabe para que paga a taxa de embarque num terminal rodoviário? É para usufruir das instalações com conforto e ter acesso a um local para higiene pessoal, que no caso, é o banheiro.
O terminal rodoviário, ainda que administrado por uma empresa, é um local público. Ao pagar taxa de embarque, você tem direito a utilizar os assentos enquanto aguarda o horário de embarque, carrinhos para transportar as malas e alguns outros itens. Mas os principais sem dúvida são: a instalação fechada para se proteger do sol e da chuva e o sanitário. Imagine quantas pessoas desembarcam numa rodoviária para fazer baldeação diariamente. Descem num terminal para comprar passagem para outra cidade, cuja espera pode variar de meia hora até quatro, cinco horas! Por isso os terminais normalmente possuem lanchonetes ou restaurante. Agora, todo cidadão consciente sabe que antes e após se alimentar, é preciso lavar as mãos. Certa vez desembarquei num terminal e queria apenas lavar as mãos. Não havia pia fora do banheiro, e para acessá-lo era preciso pagar um real. Se fosse fazer o correto, lavar as mãos antes e após lanchar, seriam dois reais. Abuso contra a economia popular. E o pior: desestimula a higiene pessoal.
A "justificativa" de que o banheiro gratuito "atrai" andarilhos, mendigos e muitas pessoas que não estão ali para viajar, é no mínimo ridícula, e podemos rebater facilmente. Em primeiro lugar, é muito fácil conseguir moedas. Em um ou dois minutos qualquer pessoa consegue cinquenta centavos ou um real num local de movimento. E em segundo, andarilhos e mendigos são problema social, problema que o poder público costuma fugir. Agora eu vou ter que pagar taxa de embarque e taxa para utilizar o sanitário "por causa de um problema social" que se multiplica por omissão de nossas "autoridades?" E não para por aí. Andarilhos e mendigos são pessoas como nós, que precisam se higienizar. Saúde pública é questão número um. Na falha das políticas públicas na questão social e da saúde, surge o oportunismo, que é exatamente o que ocorre em muitos terminais rodoviários do país. Empresas que administram os terminais já tiram o lucro delas, inclusive cobrando estacionamento, que neste caso é compreensível, pois existe o transporte público. Mas sanitário é questão de saúde pública. Leve este recado a todas as pessoas. Uma caixinha, como existe em alguns terminais que não são administrados por empresas, é até uma cordialidade para o funcionário encarregado da limpeza. Mas catraca...vamos acabar com todas as catracas do abuso. Denuncie.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Movimento Juventude, Socialismo e Liberdade. J -SOL


A Juventude Sonha. Deseja. Anseia por melhores condições pra viver. E não faz isso de qualquer maneira, mas sim dentro de uma realidade dura do nosso país. Essa realidade é aquela que impede de obter um estudo de qualidade e construir um futuro melhor. Que faz do Brasil a sétima economia do mundo e o terceiro colocado em desigualdade social. De um país que gasta mais de 45% do seu orçamento nacional com juros de uma divida ilegal e imoral.
                No paraíso da injustiça, da impunidade, da depredação do meio ambiente em nome do lucro, da concentração do poder político e na manipulação dos meios de comunicação e da produção cultural encontramos  a realidade do machismo, do racismo, da homofobia, do sexismo, da xenofobia, do preconceito contra os povos das etnias indígena, dos nordestinos, afros  e nortistas, da intolerância às Religiosas e de injustiças sociais que excluem os que mais precisam. Nós, jovens Jundiaiense, à frente de todas estas contradições, não nos contentamos em contemplar ou nos adaptarmos às durezas da vida: Queremos transforma-la.
Acreditamos que, lutando podemos mudar a sociedade. No passado e no presente, grandes lutas por direitos por mudanças profundas na sociedade foram protagonizadas pela juventude e pelo povo.
Queremos solidariedade, Justiça Social, Interesse Público, Ética, Transparência, Democracia, Participação Popular e Desenvolvimento.
A educação é um dos aspectos que agem diretamente na vida da Juventude. O debate do Plano Nacional de Educação da próxima década, educadores pressiona duramente pelos seus direitos e lutar contra o corte de 50 bilhões de reais no orçamento público federal, cujo  3 bilhões de reais serão cortados do Ministério da Educação e Cultura, que comprometem seriamente o financiamento da educação e a acessibilidade do Jovem ao conhecimento.
A defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável é outro tema em pauta na sociedade Brasileira. Mudanças no Código Florestal devem caminhar no sentido de modernizá-lo e aperfeiçoá-lo à luz dos avanços científicos acerca da preservação da natureza, da questão climática e das funções institucionais das Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais; de ampliar a Educação Ambiental dos produtores e da população em geral. Nossa cidade não fica fora do tema, por questões óbvias de especulação imobiliária, mobilidade urbana, o desrespeito as leis de proteção do meio ambiente, bem como a devastação dos nossos mananciais e nossa Serra do Japi, mostra a falta de zelo com o meio ambiente e a degradação do nosso futuro. Preservar é garantir o amanhã.
Mobilidade Urbana é um dos grandes temas que esta na pauta (inter) nacional, que faz parte do cotidiano da Juventude, pois tem relação (in) direta com o meio ambiente, com transporte público e privado, coletivo e individual. A construção de ciclovias e a melhoria efetiva do transporte público são forma de colaborar de forma sustentável para uma mobilidade urbana que favoreça o desenvolvimento social.
Nas lutas contra o aumento da Tarifa e por uma mobilidade Urbana, ficou explicito a possibilidade e a necessidade da pauta do transporte aglutinar as mais diversas lutas, uma vez que todos aqueles que vivem na cidade são afetados pelo aumento, pois mais gente fica excluída do sistema de transporte e de serviços essências para a dignidade do ser humano. Os transportes coletivos urbanos devem ser encarados como um serviço público essencial, e nessa condição devem caminhar rumo à gratuidade total e universal. A Tarifa Zero garante outro direito fundamental: o direito de poder se movimentar pela própria cidade, e a partir disto conhecê-la, refletir sobre ela e produzir as ferramentas para transformá-la.
Buscar a garantia aos direitos sociais como saúde, educação e cultura é direito e dever de todo os jovens, principalmente nós que acreditam em um futuro melhor. Lute, acredite e seja livre para construir um mundo justo.




sexta-feira, 5 de agosto de 2011

PAPIRO, PERGAMINHO, PAPEL, PC O papel do livro na era do livro sem papel Parte 1


Numa das postagens do blog do projeto “Ler é 10 – Leia Favela” (leredezleiafavela.blogspot.com), são enumerados dez motivos para ler livros: “descoberta de novos mundos”, “alegria e encantamento”, “viagem sem sair do lugar”, “novos amigos”, entre outros. Otávio Júnior, o visionário do projeto, tem 27 anos, é carioca, morador do Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, cenário dos conflitos entre a polícia e criminosos que expõem de maneira tão negativa esse local, em que trabalhadores e pessoas do bem tentam viver, relacionar-se e lutar pela sua cota de ideais, sonhos e projetos.

Otávio Júnior é autor do livro “O livreiro do Alemão”, no qual narra a sua história de amor pelos livros, e deve inaugurar, no dia 22 de agosto próximo, no Morro do Caracol, a “Barracoteca” Hans Christian Andersen, denominação que ele criou para a primeira biblioteca numa região de quatrocentas mil pessoas. Em outras palavras, na era da Grande Rede, centenas de milhares de pessoas ainda conviviam sem uma biblioteca. Eis um fato que diz tanto do nosso país de contrastes.
Como relata em seu livro, a revolução de Gutemberg em sua vida aconteceu por acaso, aos oito anos, ao topar, num lixão, com uma caixa em que havia brinquedos velhos e um livro. Pois esse livro singelo causou um big bang na vida de Otávio Júnior, que não parou de ler mais desde então. Na sua adolescência, ele fugia das aulas para, num percurso de vinte quilômetros, de ônibus, ir à biblioteca do Museu da República, que não existe mais.

A ousadia nostálgica do jovem do Alemão
Com a apropriação tão acelerada do mundo pela vida virtual, resultado da revolução da microeletrônica que caminha exponencialmente, no crepúsculo de uma era que moldou a nossa civilização - a era de Gutemberg -, a ousadia de Otávio Júnior causa-nos perplexidade: ele é um visionário retrô, que avança nostalgicamente, resistindo de maneira quixotesca contra as transformações aceleradas e aparentemente irreversíveis? Em outras palavras: o livro em papel é o centro de um mundo em extinção?
Não há, provavelmente, discussão mais seminal do que essa, à vista, como dissemos, do que parece o fim de uma era da nossa civilização e da qual procuraremos tratar aqui nesse espaço.

Convido-os a essa reflexão que, dada a sua magnitude, não é apenas filosófica ou acadêmica, pois remete a questões urgentes da organização da vida social, da educação, dos novos meios de comunicação social, da relação entre tecnologia, informação, conhecimento e poder e muito mais.
Voltaremos ao assunto.


por Paulo Matsushita